O mundo que eu conhecia foi engolido pelas chamas há muito tempo. As cidades, outrora vibrantes, agora são esqueletos de concreto cobertos por poeira e fuligem. O silêncio reina absoluto, interrompido apenas pelo sussurro do vento cortando as ruínas.
Às vezes, me pego imaginando como teria sido antes – antes do colapso, antes do céu se tornar cinza permanente, antes da escassez definir o destino de todos nós. Mas nesse mundo em ruínas há algo de hipnotizante na imprevisibilidade do amanhã. Cada passo pode ser o último, cada sombra pode esconder um predador, humano ou não.
A fome já não me incomoda como antes. O corpo se acostuma à privação, à sede constante, ao medo que sussurra no fundo da mente. Mas há algo que me mantém em movimento: a necessidade de seguir em frente, de encontrar outros como eu. Sobreviventes. Os poucos que restaram aprenderam a domar o instinto primitivo do pânico e a transformar o presente em sua única certeza.
O tempo perdeu seu significado. O ontem não importa, o amanhã é uma miragem. Há apenas o agora – um eterno jogo de vida ou morte onde cada decisão pode ser a última. Em meio a esse caos, percebo que o que realmente nos mantém vivos não são as armas, nem os esconderijos bem protegidos, mas sim aqueles que caminham ao nosso lado.
Talvez seja isso que o mundo tentou nos ensinar quando desmoronou: que a vida nunca foi sobre o amanhã, mas sobre aqueles que seguram nossa mão quando a noite cai.